terça-feira, 3 de março de 2015

Aquisição e Desenvolvimento da Linguagem Escrita




       A linguagem escrita compreende a leitura e a escrita. A leitura envolve o reconhecimento de palavras e a compreensão leitora, já a escrita inclui a escrita de palavras e de textos. Para compreensão da aquisição e desenvolvimento dessa linguagem é importante inicialmente a análise do modelo de dupla-rota ou modelo dual que consiste na rota fonológica e na rota lexical.

      A rota fonológica é utilizada pelos leitores iniciantes e para decodificação de palavras desconhecidas e explora as regras de conversão fonema/grafema, ou seja, traduz os sons em letras. A rota lexical é usada por leitores proficientes que recorrem a um léxico de entrada visual em que são armazenados significados de palavras familiares. Há uma interdependência entre as rotas fonológica e lexical tanto na leitura como na escrita. 

     Tendo em vista essa interdependência é possível fazer um paralelo entre a aquisição da escrita e da leitura. Na aquisição da leitura destacam-se os modelos discretos os quais defendem que na duração do processo vários estágios devem ser superados e também se destacam os modelos contínuos esses afirmam que o indivíduo pode ir de uma situação não expert a uma de competência leitora sem precisar superar fases específicas.

     Para Frith a aprendizagem da leitura passa por três etapas. A primeira delas é a logográfica na qual a identificação de palavras depende do reconhecimento de um padrão visual. A segunda é a etapa alfabética na qual se desenvolve o conhecimento fonológico e que se aprende o código alfabético. E a última fase é a ortográfica em que se reconhece as palavras de maneira global sem a necessidade da associação fonema/grafema, porém há a conversão de morfemas e analogias. Observa-se que as estratégias logográficas e ortográficas são típicas da leitura porém a alfabética é predominante na escrita. 

     Já Gough e seus colaboradores apresentaram o desenvolvimento da leitura por meio de duas fases. A primeira é a fase de esquemas visuais na qual o leitor seleciona uma chave visual para distinguir uma palavra de outra. A segunda é a fase do cifrado, Gough entende a leitura como um sistema cifrado (sistemático) e não como um código (arbitrário) e para se chegar até a fase do cifrado é necessário passar pelo processo de criptanálise que é o conhecimento metalinguístico que permite a aquisição do princípio alfabético. 

     A aquisição da leitura e da escrita numa visão metalinguística compreende vários níveis linguísticos: os fonemas, os morfemas, as palavras, as sentenças e a pragmática. E considera que ao aprender a ler e escrever a criança desenvolve uma consciência linguística. 

    Agora a aquisição da leitura e da escrita numa visão psicogenética leva em consideração a compreensão das características, do valor e da função da escrita pela criança durante esse processo. Ferreiro e seus colaboradores separam em três grandes períodos a construção dessa compreensão. No primeiro período a criança se torna capaz de diferenciar as marcas gráficas figurativas das não figurativas. No segundo período ocorre a construção das formas de diferenciação entre as escritas. Por exemplo, uma escrita tem que ter uma quantidade mínima de letras para que diga algo, geralmente três letras, além do texto que tem que variar as letras para que seja inteligível. Os dois primeiros períodos caracterizam a hipótese pré-silábica em que escrever é reproduzir traços típicos da escrita e não funciona como veículo de transmissão de informação.

    No entanto, o terceiro período compreende três hipóteses: a hipótese silábica na qual a criança descobre que a quantidade de letras depende da quantidade de sílabas; a hipótese silábico-alfabética na qual ocorre uma manifestação alternante do valor silábico ou fonético para as diferentes letras e a hipótese alfabética em que a criança compreende que cada caractere da escrita corresponde a um valor sonoro menor que a sílaba e apresenta a conscientização de que nem sempre determinada letra representa um determinado som. 

     Porém para Fijalcow o ingresso na escrita se dá em três tempos sucessivos e correspondem a tratamentos diferentes da escrita. No início é um tratamento exclusivamente visual, depois um tratamento que leva em conta o verbal e por último um tratamento ideovisual.

    Na aquisição da escrita ortográfica inicia-se uma conscientização de que há letras que representam sons distintos e de que há sons iguais que são representados por letras diferentes. Começando, então, a reconhecer que há uma forma “autorizada” de escrever que não consiste apenas na transcrição da fala. 

    Já no processamento da linguagem escrita há uma essencial participação do sistema nervoso central (SNC) e os mais importantes sistemas funcionais para a aquisição da linguagem escrita são o sensorial, o motor, o da linguagem oral, a memória e a atenção. Complementando o processamento da linguagem escrita há a atuação do processador ortográfico, do processador fonológico, do processador semântico e do processador contextual. 

    O processador ortográfico representa o conhecimento visual das palavras escritas, ele envia sinais para as unidades que representam os significados e dessa maneira a informação visual se configura numa palavra. O processador fonológico é ativado pela imagem auditiva de cada palavra, sílaba ou fonema e se formar uma sequência pronunciável o processador contribui para a decodificação da palavra escrita. O processador semântico dispõe dos significados das palavras familiares a partir das representações dos conhecimentos estrutural e proposicional, por exemplo os morfemas fornecem informações a respeito da classe, do gênero, do número e do tempo da palavra. E por fim o processador contextual absorve o conhecimento do contexto em que o enunciado está inserido para a interpretação coerente do texto.


Imagem:

Figura - Retirada do site: http://www.grupoa.com.br/livros/linguagem-alfabetizacao-e-letramento/aprendizagem-e-disturbios-da-linguagem-escrita/9788536301402 Acesso em 03mar2015

Um comentário: